Entrevista realizada por Aline Santos com a Dra. Bruna Godoy, médica cooperada Oncologista hematologista pediátrica.
Aline Santos – Existe um tipo de câncer mais comum em crianças? Se sim, qual?
Dra. Bruna – Os tipos de câncer mais comuns na infância e adolescência são: Leucemia, Tumor do Sistema Nervoso Central, Linfoma, Tumor de Wilms, Neuroblastoma, Osteossarcoma, Câncer dos tecidos moles e Retinoblastoma.
Aline Santos – Como reconhecer sinais e sintomas do câncer infantil? E a quem procurar?
Dra. Bruna – Nas crianças e adolescentes, o câncer costuma dar sinais e se desenvolver rapidamente, por isso é muito importante ficar atento a qualquer alteração tanto física, quanto de comportamento. O diagnóstico precoce da doença faz toda a diferença.
Os sintomas de câncer infantil mais comuns são: dor progressiva, febre sem causa aparente ou doença que não melhora, dor de cabeça frequente e acompanhada de vômito, Alteração repentina de visão, Nódulo ou inchaço incomum, Palidez repentina e perda de energia, quedas e contusões frequentes, mancar ao caminhar, Perda de peso repentina e sem explicação…
Nas leucemias, as invasões das células malignas ocorrem na medula óssea. A criança fica sujeita a infecções, tem sangramentos e sentem dores ósseas.
No retinoblastoma, um sinal importante é o “reflexo do olho do gato”, ou seja, embranquecimento da pupila quando exposta à luz. Nesse caso, é possível identificar por apresentar em muitas situações a fotofobia (sensibilidade exagerada à luz) ou estrabismo (olhar vesgo). Esse quadro, geralmente, acomete crianças antes dos 3 anos.
Já em relação ao aumento do volume ou surgimento de massa no abdômen, como o tumor de Wilms, tende a afetar os rins, tórax e pélvis.
Os que dão origem nos ossos (osteosarcoma) são tumores sólidos e podem se manifestar pela formação de massa visível ou não, causa dor nos membros e na maioria dos casos é mais comum em adolescentes.
Já os alocados no sistema nervoso central (cérebro), além de causar dores de cabeça, vômitos, alterações motoras, apresentam alterações de comportamento e paralisia de nervos.
A criança ou adolescente deve ser consultado o quanto antes por um pediatra. Pois esses sinais e sintomas podem estar relacionados ao câncer, mas não significam exatamente que seu filho tem câncer.
Aline Santos – O tratamento de câncer em crianças é diferente do que em adultos?
Dra. Bruna – O câncer na criança é muito diferente do adulto, porque a doença na criança tem origem nas células embrionárias (aquelas que no embrião não amadureceu adequadamente). Por isso, o câncer de criança é uma doença se multiplica muito rápido, cresce muito rápido e é um câncer mais agressivo. Já no adulto, os produtos do meio ambiente como o cigarro, a poluição, alguns vírus, entre outros é que fazem com que apareçam essas células defeituosas, e a tendência é a evolução mais lenta do que no câncer infantil.
Por isso, a quimioterapia no câncer infantil foi feita para destruir as células de crescimento rápido: “Então, como o câncer infantil tem a característica de progredir rapidamente, ele também responde rapidamente ao tratamento”, conta.
Quando comparado ao adulto, os resultados são muito mais animadores! Com os avanços da medicina, as chances de cura hoje podem chegar até a 70%, considerando todos os tipos.
Aline Santos – A senhora sabe que aqui na Unimed Pinda priorizamos o atendimento humanizado. Partindo disso, como vocês médicos lidam com a família do paciente nesse momento tão difícil?
Dra. Bruna – Quando acontece o diagnóstico do câncer infanto-juvenil, uma série de impasses se apresentam à família do paciente. Os medos dos pais e da própria criança ou adolescente manifestam-se das formas mais variadas. A criança e ao adolescente atravessarão um tratamento que envolve muitos procedimentos.
Cabe a nós (profissionais de saúde) acolhe-los, esclarecendo o que for possível para que o nervosismo dê lugar a um vínculo de tratamento em que o querer, os desejos e os medos dos pacientes, bem como os de seus pais, possam ser expressos. Como exemplo, se as crianças sabem ou têm notícias dos procedimentos que vão acontecer, sejam eles dolorosos ou não, a travessia do tratamento oncológico pode se tornar mais humanizada.
É importante oferecer à criança e ao adolescente um vínculo por meio da atenção que damos às suas perguntas. Os pais podem encontrar nos profissionais da equipe multiprofissional (oncologista pediátrico, psicóloga, nutricionista, equipe de cuidados paliativos e dor, assistente social, fisioterapeuta e etc) apoio para construir recursos e respostas com seus filhos, bem como tratar os próprios medos e ansiedades.
Os pais devem ser acolhidos e incluídos junto à equipe multiprofissional como parceiros preciosos do cuidado dos próprios filhos.