A tendência é que o mercado de planos de saúde ganhe um grande impulso, o que antecipará o processo de consolidação do setor.
Por Gabriela Galvão
A pandemia do novo coronavírus, que nos assombra desde novembro de 2019 com seus primeiros registros em larga escala na China, causou uma grande instabilidade em diversos setores e não foi diferente com a área da saúde, especialmente na área de saúde suplementar, atividade que envolve a operação de
planos e seguros privados de assistência médica à saúde. Além de promover reflexões quanto à alteração de comportamentos, relevância da tecnologia, reinvenção da formação médica, entre outros, o contexto atual destacou a importância de as empresas do segmento investirem de forma mais intensa e significativa nos setores de gestão e planejamento. Essa mudança é apenas uma das várias transformações que se fizeram presentes desde que a covid-19 chegou ao Brasil, em março de 2020. São essas as mudanças que irão guiar os próximos passos pós-covid.
Apesar da pandemia, o setor de planos de saúde teve, em 2020, um ano de iniciativas importantes, que contribuíram para o aprimoramento do setor e para a melhora da prestação dos serviços para os beneficiários. Com isso, houve o aperfeiçoamento dos modelos de assistência, tornando-se mais eficiente, eficaz e
sustentável, com o foco centrado unicamente no paciente. Durante esse período, muitas empresas fecharam ou reduziram suas equipes de trabalho, o que contribuiu diretamente no aumento no número de pessoas desempregadas no Brasil, resultando em um cenário de diminuição de adeptos ao plano de saúde e,
também, em um crescimento da inadimplência entre pessoas que optaram por manter seus planos ativos. Um dos assuntos que estão sendo mais estudados e debatidos quando se trata da saúde suplementar é a sinistralidade, pois existe a preocupação sobre o aumento da sinistralidade nos planos de saúde no futuro próximo e o impacto nos valores cobrados pelas seguradoras.
Reajuste por sinistralidade nada mais é do que o aumento no valor das mensalidades dos planos de saúde em razão do maior uso dos serviços pela categoria, classe, grupo familiar ou empresa da qual o usuário é participante. Tal reajuste seria supostamente baseado numa planilha de custos e desempenho da
operação que é calculada pela própria seguradora. Antes da pandemia, o nível de sinistralidade se encontrava acima da média, em que os corretores viviam em uma linha tênue, oferecendo as melhores soluções aos nossos clientes e mantendo salutar o contrato com as seguradoras e operadoras de seguros, realmente
detentoras de tais produtos. Todo o mercado nesse momento se encontra inseguro em função do comunicado da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, ainda no começo da pandemia aqui no Brasil, que determina a suspensão de qualquer processo de reajuste nos planos de saúde complementar.
Em contrapartida, as expectativas para o setor de saúde suplementar têm altos índices de crescimento, já que, com a disseminação da covid-19, as pessoas deram maior foco aos cuidados com a saúde na adoção de uma vida mais saudável, mais atenção quanto a higiene básica e mais cuidados ao se exporem em ambientes públicos com alto número de pessoas. Essas mudanças trouxeram à tona a consciência sobre a relevância da medicina preventiva. Segundo dados divulgados pela ANS, ainda no primeiro semestre de 2020, o lucro das operadoras de planos de saúde teve uma alta de 49,5% em relação ao mesmo período do ano interior. De acordo com o levantamento divulgado recentemente pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), juntamente com a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, os planos de saúde ganharam a adesão de 1 milhão de novos beneficiários durante a pandemia do novo coronavírus aqui no Brasil. Segundo os dados, os planos têm atualmente 48 milhões de beneficiários, o maior número desde setembro de 2016. Durante a pandemia os planos também tiveram aumento no número de beneficiários utilizando os serviços dos planos, tanto pelos pacientes com covid-19, como para outras necessidades.
Porém, com a alta demanda no uso da saúde complementar, barrar o reajuste das mensalidades será inevitável, fazendo com que várias empresas, especialmente as pequenas e médias, quebrem.
Na realidade, o primeiro semestre de 2021 terá o maior custo da história da saúde suplementar, resultado da segunda onda de infecções e casos por covid-19. As perspectivas para o setor, mesmo com a crise causada pela pandemia, continuam apresentando números animadores, visto que a demanda por operadoras de
saúde com produtos de atenção primária tem altíssimos dados para crescimento entre as populações presentes em zonas de grande contaminação pelo vírus. Assim que a crise imposta pela covid-19 der sinais de recuperação e a diminuição no número de casos diminuírem, as 17 operadoras poderão criar e oferecer produtos para a assistência de públicos específicos, ajudando a equilibrar as despesas e custos, tendo por base a integralização do cuidado. Outras tendências que terão destaque na saúde suplementar no pós-pandemia será o crescimento da adesão à telemedicina e ao uso de inovações tecnológicas na área da saúde, o aumento da percepção quanto a importância de se ter um bom plano ou ter um plano de saúde mesmo sendo mais simples, a ampliação do acesso a saúde e o desenvolvimento de clínicas populares. Outros fatores que também ganharão destaque serão a ascensão a consolidação, em que pequenas operadoras de menor eficiência deixam o mercado ou são absorvidas por organizações de maiores proporções e já consolidadas no mercado por meio das práticas de fusão
e/ou aquisição.
Mesmo com os números animadores para o futuro da saúde suplementar no Brasil, a incerteza do amanhã toma conta do setor, pois não se sabe quando a crise causada pela pandemia da covid-19 irá dar sinais de melhora ou até mesmo acabar prolongando o período de incertezas de todas as áreas, em especial a econômica. Quanto maior é o tempo da pandemia, maiores são as improbabilidades e dúvidas em relação aos empregos e a continuidade das empresas se manterem ativas durante o contexto atual.